Ponte Preta, 40 anos depois
Gilberto Freyre defendia que o talento do brasileiro para o futebol era graças à grande miscigenação dos povos e suas raças. O historiador Leonardo Affonso de Miranda Pereira apontou fatores que fizeram com que esse jogo, criado na Inglaterra, assumisse paixão tão popular e grandiosa nesse país de dimensão continental, com times e estádios espalhados em seu extenso território. O referido historiador trabalhou, em 1998, essa questão na sua tese de doutorado. Surge desse qualificado estudo acadêmico o livro, "Footballmania. Uma história social do futebol no Rio de Janeiro (1902-1938)". Com isso conquistou, em 2001, o Prêmio Jabuti de Ciências Humanas. Em pelo menos quatro anos de pesquisa, Pereira identificou vários pontos que fazem do futebol um esporte especial para o brasileiro, tais como: sempre ter sido um esporte popular, de massas, ser diversão para a população, expressão de representação nacional e o forte e permanente sentimento de que temos o melhor futebol do mundo. Os traumas de 1950 e de 2014, que se repete, em maior ou menor dimensão, a cada derrota da seleção, não abalam essa convicção e os campeonatos estaduais, seguido pelo Campeonato Brasileiro, vão mantendo, consolidando e ampliando tal sentimento.
Para as duas torcidas dos times dessa final, 1977 traz lembranças e reflexões. Corinthians, então há 23 anos sem o título, e a Ponte Preta, com um memorável time, preparada para ser campeã. O Brasil ainda sob a ditadura militar. A música mais tocada nas rádios naquele ano foi “Amigo”, do Roberto Carlos. Os quarentões de hoje estavam nascendo. Os atuais cinquentões ou sessentões eram garotos ou adolescentes. Dois times de torcidas ardorosas. A Ponte Preta, fundada em 1900, tem uma rica e significativa história, que traz orgulho aos seus torcedores, além do futebol que apresenta ao longo dessa história, ainda sem um grande título, mas um diferenciado conjunto de conquistas. 1977, quarenta anos depois. Reverências àquele memorável plantel da Ponte, com o mestre Dicá e um inesquecível time, que o torcedor da Macaca ainda hoje cita nome a nome, encarou com maestria a final do campeonato. Mas, o campeão foi o Corinthians. Depois os dois times voltaram a decidir o Paulistão em 1979, novamente com título corintiano. A Ponte chegou a outras finais do Paulista, em 1981 (perdeu para o São Paulo) e 2008 (perdeu para o Palmeiras). Agora, quatro décadas depois, impossível não vir à lembrança a polêmica decisão. Mas, com o necessário espírito desportivo, que vença o melhor time. E, como torcedores, que o melhor time seja a nossa amada Ponte Preta. Orgulho desta terra.
Artigo publicado no jornal Correio Popular - Campinas - 29/04/2017
Ponte Preta, 40 anos depois
Reviewed by Edison Lins
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